SERIA O EDUCADOR UM DIGITAL INFLUENCER PARA A DIFUSÃO DE SABERES NA CULTURA CIBER?

Autores

  • MARLTON FONTES MOTA UNIVERSIDADE TIRADENTES
  • Lilian Jordeline Ferreira de Melo Universidade Tiradentes
  • Diogo de Calasans Melo Andrade Universidade Tiradentes

Palavras-chave:

Influenciador, Cibercultura, Midiatização, Professor, Conhecimento

Resumo

BREVE INTRODUÇÃO O protagonismo na emissão-recepção de informações proporcionado pelas vias digitais em tempos de cibercultura, influenciou na profusão de abordagens para o alcance e transmissão do conhecimento, e em especial para a popularização de práticas educativas organizadas. O poder motivador, aliado a profundidade do conhecimento científico, assemelha o educador com um digital influencer , que é explicado como sendo um indivíduo de reputação no ambiente digital e produtor de conteúdo virtual, fazendo indicações de materiais diversos. Nesse aspecto, o texto objetiva trazer à reflexão a atividade do professor, que, como produtor de conteúdo sistematizado, poderia assumir a condição de influenciador digital, comparativamente abordada com os profissionais digital influencer que são identificados pelo seu poder de relacionamento e de formação de redes de influência no meio digital, e para tanto, a pesquisa faz uso de referenciais teóricos que notabilizam essa perspectiva. O termo digital influencer, em regra, vem sendo aplicado no campo comportamental da sociedade, ligado ao consumo de bens e serviços e como resultante do poder individual de contrair ganhos econômico a partir desse seu potencial poder de influenciar comportamentos. Para Karhawi (2017, p. 06), o digital influencer é o indivíduo que tem o “poder de influenciar em decisões em relação ao estilo de vida, gostos e bens culturais daqueles que estão em sua rede”. Com os novos espaços de comunicação e de informação proporcionados pela cibercultura , percebeu-se a gradativa alteração na ambiência física das salas de aula, que foram ampliadas para o ciberespaço das redes digitais, num processo de desterritorialização das práticas educativas de ensino-aprendizagem. A partir desse contexto, foi possível imaginar e realizar uma maior difusão do conhecimento organizado, com a possibilidade da popularização de conteúdo acadêmico e para a produção de saberes compartilhados, alterando a formatação do protagonismo, agora desenvolvido pelo sujeito virtual, que passa a ser um emissor-receptor de conteúdos circulantes. Para Lemos (2004, p. 06), a internet é uma potencializadora da cultura científica em rede mundial, contribuindo para melhorar a performance dos professores e para o maior engajamento dos alunos. Sob a perspectiva da visibilidade decorrente dessa exposição em território virtual, da credibilidade científica que notabiliza o contexto das discussões propostas, e da formação de um capital cultural sistematizado, o professor poderia ser considerado um influenciador digital, haja vista, o fato de que a educação é um bem cultural sem a conotação de mercadoria, mesmo diante de um processo de escolarização relacionado a interesses econômicos e de valores capitalistas. Lemos (2004, p. 07) define o ciberespaço como sendo “ao mesmo tempo, lócus de efervescência social e canal por onde circulam formas multimodais de informação”, e nesse contexto, o ensino-aprendizagem na difusão de saberes nas vias digitais tornam propício o cenário para uma transformação do docente num digital influencer. Espera-se que, a partir de um renovado modelo de docência com percepções inovadoras na produção compartilhada do conhecimento na cibercultura, seja possível conceber a construção de práticas educativas que alcancem o desejo da sociedade mutante. O usuário das redes digitais de comunicação, quando em ambiente escolar, traz consigo as expectativas de uma sociedade híbrida, que está em constante movimento na produção de saberes informais e não-formais, e esse panorama estabelece que a escola se apresente como um local de fluxo contínuo na construção de possibilidades de inter-relacionar a realidade com as práticas educativas. E ao intermediar esse processo, o professor precisar estar em constante reconfiguração da sua vivência cotidiana em sala de aula para repensar o modelo formal de ensinar e aprender. Linhares e Chagas (2017, p. 26) compreendem esse momento como sendo um desafio, visto que a “modernidade, a educação e a escola, se constituíram, respectivamente, ação e espaço de formação dos sujeitos para viver em sociedade”. A aprendizagem fluida, ubíqua e nômade que trafega sempre em tempo presente nas redes virtuais, tem impacto imediato sobre as relações comunicacionais e alcançam o interior das salas de aula, e isso significa que a educação formal precisa buscar outros modelos de funcionalidade que atendam à sociedade conectada, a partir de um processo de ensino-aprendizagem personalizado e colaborativo. E novamente, nesse ponto, forma-se um ambiente propício para um aprendizado aberto, promovido em espaços virtuais e que, para Karhawi (2017, p. 02), trata-se de um cenário que, de um lado, provoca a participação dos sujeitos, e de outro, atende a essa nova sociedade que cultua e valoriza cada vez mais a imagem de si, amparando a emergência de novos perfis profissionais, a exemplo do influenciador digital. O PROFESSOR DIGITAL INFLUENCER A tecnologia digital não provocou mudanças somente nos processos comunicacionais das interrelações humanas, nem se restringiu às interferências nas culturas locais para uma convergência global, mas, impactou sensivelmente o mercado de trabalho com o surgimento de novas profissões. E várias dessas são desenvolvidas por pessoas com perfil e com a habilidade para exercer o papel de influenciador, ou como define Terra (2017, p. 90), de formador de opinião em ambiente digital, produzindo ou replicando algum conteúdo, ainda que com a configuração de comentários ou reproduções. Nesse ecossistema de infinitas possibilidades, onde, de acordo com Linhares e Chagas (2017, p. 21), “permite ao sujeito emergir, atuar, alimentar e transformar os processos e práticas de comunicar e aprender”, existe uma condição propícia à imagem do professor como produtor do conhecimento formal, em vários campos dos saberes. A qualidade embrionária para a formação do professor num digital influencer está na interferência das tecnologias móveis no cotidiano do aluno, forçando a construção de diálogos personalizados entre a educação e a realidade, e por sua vez, estreitando o contato entre docente e discente nas vias digitais. Para Porto e Jesus Oliveira (2014, p. 225), a adoção das tecnologias móveis protagonizou mudanças na transmissão do conhecimento pelas instituições formais de ensino, e isto vem se tornando um grande desafio para a geração de professores que não foram gestados nas chamadas gerações digitais. Importa afirmar que, decorrente da sua formação profissional e da sua capacidade discursiva, o professor se compatibiliza com requisitos exigidos para um digital influencer, atuante nos diversos campos dos saberes e com potencial para perpetuar a sua reputação acadêmico-científica no ambiente virtual. A midiatização do conteúdo educativo formal vem acompanhando o processo de transformação cultural globalizado e caminhante nas vias digitais, interagindo com as práticas pedagógicas para uma proposta dinâmica e criativa na produção do conhecimento. E nesse panorama, é possível promover a criação de ambientes que desenvolvam uma aprendizagem complementar, mestiça e plural, proporcionando um compartilhamento de conteúdo produzido pelo profissional da educação, nos seus diversos ramos. Karhawi (2017, p. 09) explica que quando se trata da produção de conteúdo, não se especula sobre uma análise valorativa, pois, para a autora, esse conteúdo pode ser “desde fotos bem clicadas para o Instagram, posts em blogs, montagens divertidas no Facebook; até vídeos com edição profissional, textos especializados, etc”. É impensável o fato de a educação sistematizada estar fora da tecnologia digital, e isso tenderá à (re) formulação no papel do professor e da sua importância no processo de mediação do conhecimento. Na cibercultura, a proposta da aprendizagem colaborativa converge para o processo de percepção imediata no envio-resposta da informação, exigindo do docente uma capacidade de expressão e de inovação que seja consonante com a celeridade do mercado virtualizado. A atividade docente em tempos de ciberespaço, ao contrário da especulação inicial de que a tecnologia digital poderia ser uma ameaça à carreira de professor, tornou-se um potencial elemento para consolidar o papel de influenciador, dotado de legitimidade, credibilidade e autoridade para colocar discussões em circulação, favorecendo a midiatização dos relacionamentos organizacionais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

MARLTON FONTES MOTA, UNIVERSIDADE TIRADENTES

Doutorando em Educação PPDE-Unit; Bacharel em Direito pela Universidade Tiradentes (Unit-SE), Especialista em Direito Processual Civil pela Associação Educacional Unyahna-BA e Mestre em Educação pela Universidade Tiradentes-SE. Atualmente é professor da Graduação e da Pós Graduação do Curso de Direito da Universidade Tiradentes-SE.

Lilian Jordeline Ferreira de Melo, Universidade Tiradentes

Mestrando do programa PPGDH - Universidade Tiradentes. Especialista em Direito Tributário, Bacharel em Direito pela Universidade Tiradentes

Diogo de Calasans Melo Andrade, Universidade Tiradentes

raduado pela UNIT (2002), pós-graduado em Direito Civil pela UNIT (2005). Mestre em Direito, na área de concentração constitucionalização em direito, pela UFS (2014). Doutor em direito político e econômico pela Universidade Mackenzie (2018). Professor titular da graduação e do mestrado em direitos humanos do PPGD-UNIT. Professor convidado em cursos de pós-graduação em Direito Civil e Processo Civil. Avaliador de várias revistas jurídicas. Líder do grupo de pesquisa Novas tecnologias e o impacto nos Direitos Humanos do mestrado em direito Humanos da UNIT.

Referências

KARHAWI, Issaaf. Influenciadores digitais: Conceitos e práticas em discussão. Anais do XI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e Relações Públicas - Abrapcorp. 2017. Disponível em: <http://editora.pucrs.br/acessolivre/anais/abrapcorp/assets/edicoes/2017/arquivos/15.pdf>. Acesso em: 23 set. 2019.

LEMOS, André. Cibercultura, cultura e identidade: em direção a uma “Cultura Copyleft”?. Contemporânea. v. 2. n. 2. P. 9-22. Dez/2004. Disponível em: <https://portalseer.ufba.br/index.php/contemporaneaposcom/article/%0BviewFile/3416/248>. Acesso em: 20 set. 2019.

LINHARES, Ronaldo Nunes; CHAGAS, Alexandre Meneses. Aprendizagem no ciberespaço: por uma pedagogia da comunicação em uma educação mestiça. In. PORTO, Cristiane; MOREIRA, J. António. Educação no ciberespaço: novas configurações, convergências e conexões. Aracaju: EDUNIT, 2017.

PORTO, Cristiane de Magalhães; JESUS DE OLIVEIRA, Kaio Eduardo de. Mídias locativas e as novas foras de aprender: a educação 3.0. In. LINHARES Ronaldo Nunes; PORTO, Cristiane; FREIRE, Valéria (org). Mídia e Educação: espaços e (co) relações de conhecimentos. Aracaju: EDUNIT, 2014.

SANTAELLA, Lúcia. Desafios da ubiquidade para a educação. Revista Ensino Superior Unicamp. ed. 9. abr/2013. Disponível em: <https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/edicoes/edicoes/ed09_abril2013/NMES_1.pdf>. Acesso em: 19 set. 2019.

TERRA, Carolina. Do broadcast ao socialcast: apontamentos sobre a cauda longa da influência digital, os microinfluenciadores. Revista Communicare. v. 17. 2017/09. art. 4. Disponível em: <https://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2017/09/Artigo-4-Communicare-17-Edição-Especial.pdf>. Acesso em: 23 set. 2019.

Downloads

Publicado

2020-04-13

Como Citar

MOTA, M. F., Ferreira de Melo, L. J., & Melo Andrade, D. de C. (2020). SERIA O EDUCADOR UM DIGITAL INFLUENCER PARA A DIFUSÃO DE SABERES NA CULTURA CIBER?. II Encontro Regional Norte-Nordeste Da ABCiber, (1). Recuperado de https://eventosgrupotiradentes.emnuvens.com.br/abciber/article/view/12611

Edição

Seção

Educação e Comunicação na Cibercultura